Há duas frentes de estilo em voga entre as grifes que desfilam na São Paulo Fashion Week. Uma extrapola os limites da passarela para testar novos cortes, proporções e tecidos para botar os pés na rua com alguma graça. A outra, tímida, não conjura nenhuma novidade e olha para o próprio passado com a ideia de repetir o sucesso de outrora.
Ambas correntes são artifícios perigosos se mal costuradas no campo das ideias e reproduzidas das passarelas internacionais, como a da marca francesa Vetements e a italiana Gucci, duas das que mais “inspiraram” etiquetas nesta 41ª edição do evento de desfiles.
No terceiro dia da semana de moda, a moda urbana e cheia de testes de proporções definiu o desfile do baiano Vitorino Campos, com algumas referências pontuais à temporada internacional.
Não chega a ser um problema se a ideia é ser global e entrar na onda do “streetwear” de luxo, mas talvez um pouco de desprendimento dos códigos europeus caísse bem.
Há boas jaquetas amplas feitas de jeans e vestidos de glitter holográfico, que produzem o novo futurismo proposto pelo estilista. Segundo ele, a coleção é “uma viagem ao espaço”.
Mais perto da Terra foi o estilista Valdemar Iódice na coleção da grife que leva seu sobrenome. Da costa amalfitana, na Itália, ele tirou a cartela de nudes e azuis que compõem peças de linho, algodão e seda.
Os blusões com mangas alongadas e as silhuetas afastadas do corpo são bem diferentes da veia fetichista, cheia de couro e roupas justas, que fez a fama da marca. Sinal de que no ringue do varejo ganha quem adaptar melhor a tendência da temporada.
Reinaldo Lourenço, por sua vez, olhou para o próprio repertório de temporadas passadas para voltar com as saias plissadas, as camisas estampadas com grafismos, pinceladas góticas e um pop oitentista usado com parcimônia.
A imagem do desfile é similar à da coleção anterior, de inverno 2016, mas nesta Lourenço mostra como dosar brilho, transparências, cor e pele à mostra.
Em meio a tanto jeans, camisa de seda estampada digitalmente, proporções amplificadas e alfaiataria relaxada, quem mostra como encantar com pouca roupa é Lenny Niemeyer.
Paulista, mas alma da praia carioca, a estilista se inspirou no Japão para criar a coleção mais brasileira da temporada até agora.
Os maiôs são construídos com a parte de cima mais larga, uma novidade para as brasileiras. A praia de Lenny tem maiôs-camiseta, maiôs-bomber e maiôs-quimono.
Decorativa na medida, a coleção apresenta estampas de carpas, peixes e árvores de cerejeira inseridas em pequenos detalhes.
Estampas e recortes ousados formaram o combo do desfile da grife Triya, outra etiqueta carioca especializada em moda praia.
Areia, sol, mar e animais exóticos imprimiram nos minibiquínis e nos maiôs cavados da estilista Isabel Friugiele um estilo descomprometido.
A moda praia brasileira, no fim da s contas, simboliza o espírito de renovação alheio ao mercado de moda pronta para consumo que dominou a alma dos criadores brasileiros.